quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Esquina voluntários




O desespero se expressa na solidão da coroa bêbada, puxando assuntos aleatórios com qualquer que esteja de copo na mão, quer queiram ou não. Vejo as pernas da vinte e poucos à amostra no frio que as cruza promiscua. Talvez um certo arrependimento por não estar de calça. De qualquer forma, é no meu tesão que ela trabalha agora.
O frio aperta, o cão uiva. A cerveja é renovada no copo, intimidades alheias postas a julgamento popular, ratos atravessam. Pequena pausa para as moedas entregues ao soldado da resistência, na busca insana a essa hora, é tudo que tem e se agarra. Peguei-a no flagra, de rabo de olho para mim, justo quando pensava já ser invisível. Será mais uma mentira de uma outra madrugada. Ao acordarmos juntos amanha, saberemos o quanto não somos um do outro. Quem irá se importar?
Interrompido para moedas novamente, dessa vez disse não ter. Estava tão entretido com a espreguiçada que revelava a pancinha sexy daquelas pernas, que o que me resta é o remorso de não ter-me atento a um grito esperançoso - setenta e cinco centavos - ao leite “dur mininus”.
Não morra com arrependimentos de não ter feito o que foi feito para ter sido.
Agora mesmo vou pedir um cigarro pro derrotado de cinqüenta e poucos, lobo solitário a minha frente. Talvez esteja mais próximo dele que imagino.
Peguei, acendi, fumei e apaguei. O vento frio adicionado a uma garoa levada, é minha companhia mais real nessa esquina.
Mais uma noite, mais um acontecimento, mais tantas cervejas..

Atenção: Pernas de vinte e pouco se levanta/desfila, some no fumê do Astra alheio.

Um comentário:

Unknown disse...

gostei disso, não sabia q vc escrevia...
posso roubar uma frase?